Geração Canguru
- Cleber Campos
- 18 de abr. de 2021
- 2 min de leitura
Atualizado: 12 de ago. de 2021

Você já deve ter ouvido seus pais dizendo algo do tipo: “Eu não tinha liberdade nenhuma, tinha hora pra chegar em casa, hora pra namorar, hora pra tudo e tive que trabalhar cedo, meu pai foi igual ao meu avô, mão de ferro, autoritário...”
Nossos pais foram filhos de uma geração onde o autoritarismo era vangloriado, os homens eram provedores e as mulheres donas de casa*. Portanto, qualquer rapaz de 18 anos devia logo arrumar um jeito de ser provedor de uma mulher que pudesse lhe dar filhos. Esses foram nossos avós. Nossos pais, filhos desta geração, ainda ocupavam papéis bem parecidos, mas por motivos econômicos (sempre eles), sociais e culturais não foi possível continuar a tradição de ter cinco ou mais filhos, uma mulher-empregada e uma roupa de missa. Prova disso é que muitas de nossas mães, mesmo que ainda em minoria, já trabalhavam fora e muitos de nossos pais conseguiram se firmar em uma profissão diferente de nossos avós. Ótimo, tudo resolvido!? Não, vamos por partes. Primeiro, devido àqueles tais motivos econômicos, mudou-se o fazer, já o pensar é outra história! Sua mãe pode até ter conseguido trabalhar fora, mas muito provavelmente casou-se cedo, pois seu papel social principal ainda era o de ser mãe dos filhos que seu pai deveria fazer e manter para provar ser homem.
Notem que aquele sistema tradicional, (dos nossos avós) tinha seu bônus!
O ritmo de vida das pessoas já estava previamente definido, era só seguir. A pessoa nascia, e quando crescia não precisava pensar muito no que fazer, era só seguir os passos dos pais, e não inventar muito moda! (Sim, isso causou inegáveis ônus, mas por hora, estou ressaltando possíveis bônus de ter um caminho trilhado)
Já nossos pais, não tiveram o bônus desta tradição, pois seguir os costumes já não era suficiente para sobreviver. Resultado: só ficaram com o ônus, a opressão contra a mulher e a forte cobrança contra o homem, onde qualquer demonstração de emoção e afeto pode afetar seriamente a tal virilidade, a honra.
Pois bem! Eu, pai e mãe contemporâneo, aqui em 2021, vou fazer diferente! "Os meus filhos poderão ficar em casa quanto tempo quiserem, até terminar a faculdade e algumas especializações. Não quero que eles sofram o que eu sofri, casei cedo, não tinha casa própria, nem nada! E eles também vão poder sair e passear, se divertir faz bem, não quero ser como meu pai que não deixava a gente ir na esquina. Namorar também pode, de início estranhei, mas antes dentro da minha casa do que nos perigos da rua, e ela já é maior de idade, sabe o que faz, vai até comprar um carro, aí quando acabar de pagar o carro, conseguir comprar um imóvel e terminar o mestrado eles vão poder sair de casa, sem aquele sofrimento todo que a gente passou.” O resultado disso? Não sei, está em construção, mas por hora, arrisco chamar de geração canguru eternamente filhote.
*Certamente, nosso cotidiano ainda está recheado de tradições e costumes de nossos avós. Vale dizer, que me refiro a uma época em que ser diferente do "tradicional" era ainda mais complicado do que é hoje.
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